Motivação por Kátia Machinez da Cunha

28 abr 2014

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Texto gentilmente cedido pela Professora Kátia Machinez da Cunha.

Extraído da monografia: O Desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem de matemática: Inter-relações com a consciência e a motivação.

Apresentada ao Instituto de Psiquiatria- IPUB/UFRJ.

Motivação

A motivação compreende um conjunto de impulsos internos que nos leva a realizar certos ajustes corporais e comportamentais, sendo primordial para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo (Neves & Boruchovitch, 2006). Ela é crucial para o aprendizado bem-sucedido e está intimamente ligada ao entendimento e às emoções (Guimarães, 2012), refletindo a extensão para a qual o organismo está preparado para agir física e mentalmente de maneira focada (Lent, 2010).

Lent (2010) afirma que muitos atos provocados pela motivação não têm conteúdo cognitivo ou emocional explícito, nem são tão simples e automáticos como os reflexos. Ele os separa em três classes sendo a primeira referente a comportamentos elementares, provocados por forças fisiológicas bem definidas, ligados a mecanismos homeostáticos, ou seja, de manutenção de uma certa constância no meio interno do organismo envolvendo reflexos autonômicos e somáticos que visam gerar energia, citando como exemplo frio, calor, sede e fome. A segunda classe seriam as forças fisiológicas reguladoras não bem definidas, ligadas à sobrevivência da espécie, um exemplo seria o sexo. E a terceira, seria sem determinação biológica identificável e mais complexa, ligada ao equilíbrio psicológico do que propriamente à vida biológica. Essa terceira classe incluiria os impulsos internos subjetivos, sendo alguns comportamentos afiliativos por envolver relações, tendo como exemplos estudar, trabalhar, comprar livro, etc (Lent, 2010).

Os comportamentos motivados são ações tomadas em resposta a um estímulo para alcançar um objetivo (Ernest & Fudge, 2008), geradores de dois tipos de ações: comportamento apetitivo que são atos preparatórios para satisfação da necessidade e os comportamentos consumatórios que realizam efetivamente a satisfação. Eles são gerados por duas forças fundamentais: homeostasia que é a constância do meio interno provocada for forças fisiológicas, e a busca do prazer que é entendimento intuitivo relacionado a uma recompensa ou reforço positivo (Lent, 2010).

Há tempos, psicólogos e educadores têm considerado o efeito de fatores motivacionais na aprendizagem e no desempenho dos alunos em vários campos (Linenbrink, & Pintrich, 2002). Pesquisadores definem a motivação como o processo pelo qual a atividade é instigada, sustentada e dirigida a objetivos (Pintrich & Schunk, 2002), o desejo de um indivíduo, o poder e a tendência a agir de forma particular (Walter & Hart, 2009). No contexto escolar, a motivação se refere à “disposição de um aluno, necessidade, desejo e compulsão de participar e ser bem sucedido no processo de aprendizagem” (Md. Yunus & Wan Ali, 2009). Alguns teóricos também sugerem que a motivação é a chave para a melhoria da aprendizagem ( Middleton & Midgley , 2002) pois é aceita como uma ferramenta que afeta a criatividade dos alunos, os estilos de aprendizado e as realizações acadêmicas (Kuyper, van der Werf & Lubbers, 2000). Neste caso, se a motivação é ignorada, o ensino será ineficaz, especialmente no ensino fundamental, quando o fator de motivação é tão importante (Cavallo 2002).

Motivação intrínseca e motivação extrínseca

Apesar de ser um conjunto de impulsos internos, a motivação é classificada em dois modelos: a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. Porém, as distinções realizadas entre estas motivações podem ser insuficientes (Walter & Hart, 2009), tornando-se necessário uma maior investigação destes dois modelos.

A motivação extrínseca é heterogênea, promovida por uma variedade de recompensas externas, pertencendo a atividades que são mais instrumentais e adaptativas. Ela é definida como a motivação para se envolver em uma tarefa por razões externas, com base nas necessidades de responder às demandas sociais, com objetivo de atingir alguma recompensa, evitar alguma ameaça ou ganhar algum reconhecimento (Deci & Ryan, 1985).

Murayama e colaboradores (2012) afirmam que no ambiente escolar a motivação extrínseca, normalmente, é impulsionada pelo desejo de obter boas notas (Pekrun, 1993; Lemos, 1996). Geralmente é conduzida por benefícios de aprendizagem esperados a curto prazo e está ligada a alguns fatores: 1) a aprendizagem instrumental independente de interesse (Grolnick & Ryan, 1987); 2) o uso excessivo de ajuda; 3) a busca dependente, sem autonomia (Butler, 1998) e, 4) a aprendizagem auto-fragilizada (Urdan & Midgley, 2001).

A motivação intrínseca é a motivação inata, derivada da propensão a explorar e dominar seu mundo interno e externo, manifestando-se como curiosidade e interesse, a força para manter o engajamento em uma tarefa, mesmo na ausência de reforço ou apoio externo. Mas, por causa do interesse na tarefa em si, do prazer inerente e da satisfação derivada da tarefa. Ela promove o engajamento e é o resultado das necessidades de competência (Deci e Ryan, 1985). Ela está associada a diversas variáveis ​​que suportam a aprendizagem, tais como: 1) a participação ativa e esforçada (Ryan & Connell, 1989); 2) a persistência em face da falha (Elliott & Dweck, 1988) e, 3) a experiências de aprendizagem emocionais positivas (Pekrun et al., 2002).

As motivações intrínseca e extrínseca possuem diferenças importantes, mas não são dicotômicas como sugerem alguns autores (Corpus et al., 2009). Em vez de estarem em lados opostos, elas podem ser muito mais complexas em suas relações umas com as outras e com outras variáveis ​​que afetam o desempenho do estudante. A divisão da motivação como inerentemente intrínseca ou extrínseca pode promover visualizações inadequadas e potencialmente errôneas de experiências e escolhas vividas por alunos em salas de aula ( Lin, McKeachie & Kim, 2003).

Metas e Objetivos

Metas e objetivos parecem ser o combustível que alimenta a motivação intrínseca. Para Goleman (2012) o essencial para a automotivação, o controle, a criatividade e para concentrar a atenção é pôr as emoções a serviço de uma meta. Damásio (2012) afirma que eliminando a perspectiva de compensação futura estaremos retirando a força de elevação que move da força de vontade. Força de vontade e a persistência são fatores importantíssimos para a aprendizagem da matemática. Por isso,é importante a consciência de que existem ações em que as consequências imediatas não são agradáveis (não sair, perder uma festa), mas que a perspectiva do futuro são vantajosas (aprender, tirar boas notas, passar num concurso). Além disso, essas ações criam marcadores-somáticos positivos e produzirem uma tolerância ao sacrifício (passar horas estudando), promovendo a força de vontade, onde a atenção estará canalizada na dificuldade imediata, mas também na compensação futura (Damásio, 2012). Neste sentido, Goleman diz que saber adiar a satisfação e conter a impulsividade é a chave do autocontrole emocional e contribui muito para o desenvolvimento do potencial intelectual (Goleman, 2012).

Texto retirado da monografia apresentada ao Instituto de Psiquiatria – IPUB/ UFRJ para obtenção do grau de especialista em Neurociências Aplicadas a Aprendizagem da professora Kátia Machinez da Cunha