Tem coisas que marcam a vida da gente…
Tem coisas que denunciam a nossa idade …
Tem fatos que são inesquecíveis…
Tem pessoas que são incríveis….
Niterói, dezembro de 1961. Meu avô saiu com meus dois primos para ir ao circo e eu, muito pequena, fiquei na casa da vovó aos prantos por não ter ido ao circo.
Nessa época só os abastados possuiam telefone fixo, não havia celular, smartphone, google, e as notícias demoravam a chegar, as pessoas não eram localizadas de forma rápida nem fácil.
Um barulho insurdecedor de sirenes, muitas sirenes de bombeiros, ambulâncias, uma boataria, um alarme de incêndio no circo, famílias em pânico, dentre elas, a minha!
Foi a maior tragédia circense do mundo, no Gran Circus Norte-Americano!
Mais de 500 pessoas, a maioria crianças, morreram nesse incêndio.
Hospitais lotados, pessoas buscando informações.
Meu avô e meus primos mudaram o rumo, desistiram do circo e vieram pro Rio, passear na Quinta da Boa Vista, pela Providência Divina! Mas isso só soubemos à noite, com extremo alívio!
Um empresário dos transportes, de nome José Datrino, pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio e se transformou num consolador voluntário, confortando as famílias das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade.
Plantou flores, formou jardins, cultivou hortas sobre as cinzas do Circo em Niterói. Nesse local que antes era motivo de alegria e se transformou em motivo de muita trsteza ele passou a habitar e lá viveu de forma singela por 4 anos, tendo abandonado o mundo material para viver num mundo espiritual! Ele incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza, e por isso passou a ser chamado José Agradecido, o Profeta Gentileza!
Todo cidadão Niteroiense se admirava com sua postura, com sua vestimenta, com suas palavras, com sua determinação e dedicação a pregação como um personagem andarilho da cidade. Ele percorria ruas, praças e passou a fazer a travessia das Barcas Rio-Niterói levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. No Rio era visto na Estação das Barcas, na Central do Brasil e na Rodoviária, locais de grande concentração pública.
Confesso que adolescente, quando vinha estudar no Rio, olhava para ele pensando se era louco, se tinha consciência da essência de suas palavas, se teria sido preparado, estudado…
Jamais imaginaria que aquele personagem das páginas niteroienses iria se tornar uma celebridade nacional e internacional, um marco na arte de rua, artigos de jornais, revistas, teses de mestrado, tema de samba-enredo de escola de samba no carnaval, nome de ONG, música de Marisa Monte, etc.
Aquele homem da minha infância, de túnica branca, cabelos e barba longas, tão alvas quanto a pureza de sua alma deixou o seu legado. Em 56 pilastras, na entrada da cidade do Rio de Janeiro, no Viaduto do Gasômetro, o Profeta eternizou sua mensagem de amor, respeito e crítica social.
Gentileza faleceu em 1996 mas sua palavra e obra ficarão para sempre.