Dinheiro motiva?

19 maio 2011

felicidadedinheiro

Roberto Santos, ex-Diretor de RH da Intelig, também escreveu no Vya Estelar uma matéria que fala do tema da semana que é Dinheiro x Felicidade, segue o link e depois a matéria:

http://www2.uol.com.br/vyaestelar/gestaopessoal_felicidade.htm
“Desejo, necessidade, vontade…
A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte…
A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade…”
Esse sucesso do começo da carreira dos Titãs retrata o tema que há muitos séculos povoa às mentes de pensadores, artistas, políticos e pessoas comuns como você e eu – a busca da felicidade.

Livros e mais livros de autoajuda entopem as prateleiras de livrarias e bibliotecas reais e virtuais; palestras motivacionais se multiplicam em palcos empresariais para acenar com a possível realização de nossos sonhos e esperanças.

Enriquecem autores e palestrantes, fagulhas de motivação acendem os espíritos e mentes dos leitores e espectadores para logo se apagarem diante da dura realidade da rotina que engole os planos de mudanças de vida.

Utopia ou realidade, a busca da felicidade é como um combustível que nos move diariamente a fazer o que fazemos na tentativa ou esperança de alcançá-la.

Recentemente, duas notícias circularam sobre este tema e me chamaram a atenção.

O projeto emenda constitucional de Cristovam Buarque, em uníssono com o Movimento Mais Feliz, visa rever a redação do artigo sexto da Constituição Brasileira, para incluir a felicidade:

“São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.”

Numa primeira leitura destes direitos sociais todos, almejados por nossa Carta Magna, passa a impressão de que sendo atendidos integralmente, teríamos finalmente atingido a tão sonhada felicidade.

Será verdade?

Não seriam condições necessárias, mas não suficientes?

Afinal, será que o mesmo tipo de alimentação, de trabalho, de moradia que satisfaz a seu vizinho, também o fará feliz?

Provavelmente, não.

Essa tal felicidade parece ser por demais subjetiva e, por consequência, complexa para se obter respostas simples.

Outra notícia que voltou à mídia recentemente é sobre o “Índice de Felicidade” que o Governo Britânico está querendo criar seu indicador, como Canadá, França e o Butão já criaram o seu.

Esse pequeno país Asiático e budista foi o primeiro a falar, em 1972, no conceito e índice de “Felicidade Nacional Bruta” (FNB).

O rei Jigme Singye Wangchuck que abriu o Butão à modernidade, desenvolveu esse indicador que mede a qualidade de vida ou progresso social em termos mais holísticos e psicológicos do que o “Produto Interno Bruto” que ainda é o índice predominante para avaliar as riquezas dos países.

Entretanto, como muitos indicadores psicológicos e sociais, a “FNB” é mais fácil se descrever do que defini-la com precisão matemática como o “PIB” que já existe há muito mais tempo.

Os pilares da FNB são bastante genéricos, e como tal, facilmente transportáveis para diferentes culturas.

São quatro esses pilares: a promoção do desenvolvimento sustentável, a preservação e promoção de valores culturais, a conservação do meio ambiente natural e o estabelecimento de boa governança.

O que o Governo Britânico está querendo perguntar à sua população é “O que faz você feliz — Dinheiro, emprego, saúde, bons relacionamentos, sensação de segurança, atividades culturais?…

Com base nas respostas do que é importante para as pessoas, vão criar um índice que será acompanhado e divulgado junto ao PIB.

Assim, será possível saber se o britânico está mais rico ou mais pobre, e também se está mais ou menos feliz, e até que ponto uma coisa influencia a outra.

As duas notícias mencionadas são apenas ecos com tons um pouco diferentes de vozes anteriores perguntando o que nos motiva, o que queremos, o que valorizamos, para a busca da tão sonhada felicidade.

Os seres humanos, segundo a Teoria Socioanalítica, de Robert Hogan, vivem em grupos que têm hierarquias (como escolas, igreja, exército, empresas, etc.) e buscam, ao longo do desenvolvimento da espécie, satisfazer três grandes necessidades:

-de serem aceitos para pertencer aos grupos que lhes são importantes, isto é, “dar-se bem” com os outros,

-de se destacarem naquelas hierarquias, ou seja, “se dar bem” na carreira por exemplo, e, num nível mais elevado de necessidade,

-encontrar um significado para a vida, geralmente, pela via espiritual da religião e outras formas de resposta.

Essa última necessidade é aquela que nos diferencia daqueles primos que ainda andam sobre quatro patas, os primatas.

Ao longo de 80 anos de estudos, vários autores propuseram suas taxonomias ou classificações de motivações e valores.

A Pirâmide de Maslow está entre as mais famosas

– na base, as necessidades fisiológicas,

-seguidas das de segurança,

-depois as sociais,

-de autoestima e por último as

-de autorrealização.

Em linhas gerais, uma necessidade só é motivadora quando não está atendida e por isso, move o indivíduo a buscar seu atendimento.

Dessa maneira, seria muito difícil, falar em motivar alguém com uma oportunidade de fazer um curso de pós-graduação na Europa, se a pessoa está morrendo de frio e fome.

Dinheiro motiva?
A pergunta polêmica que fiz a um grupo de executivos certa vez: “Dinheiro motiva?” pode suscitar uma resposta impulsiva do tipo “claro…”

Porém, quem já não viveu a situação de estar trabalhando num ambiente terrível, em que precisa-se de velcro nas solas dos sapatos para não cairmos quando o tapete nos é puxado e que reportamos a um chefe-mala-sem-alça e tóxico?

Qual seria o efeito motivador de um polpudo aumento de salário, ou por quanto tempo ele teria efeito?

Provavelmente, depois de uns dois meses que os reais adicionais encontrassem seu destino com novas contas, sobreviriam as dores do ambiente e chefe perversos.

Ou seja, a remuneração injusta e incompatível com nossas competências e contribuições pode ser desmotivadora, mas apenas ganhar mais e mais não motiva ninguém.

O Dr. Hogan criou seu Inventário de Motivos, Valores e Preferências, organizados em Interesses por Status (Reconhecimento, Poder e Hedonismo), Interesses Sociais (Afiliação, Altruísmo e Tradição), Interesses Financeiros (Segurança e Comercial) e Estilos de Tomada de Decisão (Estética e Científico).

Esse instrumento serve para a pessoa avaliada, ou a empresa onde ele trabalha ou pretende trabalhar, poder mensurar e compreender em que tipo de ambiente e/ou de carreira, ela vai se sentir mais feliz e, por consequência, ter um melhor desempenho.

Por exemplo, pessoas que adoram trabalhar em vendas, e que costumam ser bem-sucedidas nessa carreira, costumam ter alta necessidade de Reconhecimento (fama e visibilidade), de Poder (ser bem-sucedido em competições), de Afiliação (estar em constante contato com pessoas) e Comercial (fazer e ganhar dinheiro) e baixa necessidade de Segurança (disposição a correr riscos).

Assim, a pergunta sobre o que traz felicidade (ou “manda buscar” como brincam alguns…) é, em grande parte, um fator do quanto minhas motivações e meus valores são atendidos pelo que eu faço, o que tenho acesso, com quem eu ando, etc.

Por esse motivo, não pode haver uma resposta única ao que faz felizes os britânicos, canadenses, butaneses ou brasileiros, para que se possa providenciar numa constituição.

Sabemos sim que os direitos sociais básicos para uma vida digna devem ser pleiteados veementemente junto aos governos, em troca dos impostos que pagamos.

Contudo, o alcance da felicidade mais profunda e autêntica depende do quanto conseguimos nos conectar conosco mesmos, para conhecermos nossos valores e motivações que apontam para aquilo que se traduz no significado que buscamos para nossa existência nesse mundo.”

Obrigada Roberto Santos por compartilhar conosco essa matéria!