Imagem: Janaina Beraldo
Fazem exatamente quatro meses e alguns dias que eu saí de Santo André – São Paulo para começar esse novo estilo de vida, que algumas pessoas entendem como período sabático, em que fui me descobrindo dia após dia.
Aprendi muitas coisas e especialmente que, por mais planejado que tenha sido a viagem, você nunca vai conseguir prever ou controlar o que vai acontecer depois do minuto em que você entrar no avião.
1. Minha mala poderia ter metade do tamanho:
Acreditem, perto do que eu tinha em São Paulo eu não trouxe NADA, mas desse nada, ainda poderia ter trazido pelo menos metade.
A grande questão é que quando você não vai trabalhar, você não usa muita roupa.
Além disso, você não tem uma vida social como a que você tem quando você está vivendo por um longo período em algum lugar e, por mais que você faça algo diferente todos os dias, as pessoas também vão ser diferentes, e suas roupas serão sempre novas para elas.
2. Não ter um trabalho fixo pode não ser tão excitante quanto parece:
Quando a gente está trabalhando, tudo o que a gente mais quer na vida são as férias.
Acho que todo mundo já se pegou sonhando como seria a vida se ganhasse na loteria e não precisasse trabalhar, né?
Ou viver como algumas pessoas que eu tenho pesquisado por aí, os nômades digitais, que trabalham enquanto viajam.
Pois é, não dá para dizer nem de longe que seja ruim, mas para uma pessoa que trabalhou 16 anos sem parar, não ter uma obrigação diária é um pouco estranho.
Nas primeiras semanas é ótimo, porque você realmente se sente de férias, mas ainda melhor, já que sabe que não terá de voltar a trabalhar.
Só que depois de 3 semanas parece que a nossa cabeça automaticamente se prepara para voltar ao trabalho (força do hábito) e não ter um trabalho faz a gente se sentir bem perdido.
3. O mais importante: sabático não é férias:
A ficha de que você não vai voltar a trabalhar cai depois da terceira semana.
Fica um misto de alegria sem fim por ter seu tempo todo livre para fazer o que quiser, mas ao mesmo tempo, um frio na barriga porque não vai ter salário no próximo mês, nem no próximo, nem no próximo…
Além disso, quando estamos de férias, tiramos aquelas semanas para nos permitir fazer tudo aquilo que o ano inteiro trabalhando não nos permite fazer.
Visitamos todos os lugares turísticos, queremos comer em lugares gostosos com sobremesa e drinks todos os dias, não nos importamos em gastar um pouco mais com algumas bobagens, afinal, estamos de férias!
Pois é, não é isso que acontece quando você está tirando um período sabático.
Vão ter dias tão monótonos quanto os dias em que você está trabalhando, só que num lugar diferente.
Não dá para viver todos os dias como se fossem férias, fazendo coisas novas e indo conhecer lugares todo santo dia, principalmente se você não tiver muita grana.
O segredo está em aprender apreciar esses dias monótonos como um prêmio à aqueles milhares de dias em que você passou 4 horas engarrafado, ou que depois de se matar um final de semana inteiro para colocar um trabalho de pé, alguém desmarcou a reunião.
4. Ter tempo livre não garante que você fará o que não conseguia fazer quando trabalhava:
O ser humano sempre acha que não faz as coisas porque uma força maior está impedindo.
Isso é uma grande besteira.
Tudo na vida são escolhas e dependem de dedicação e disciplina, não importa se você trabalha 12 horas por dia ou não faz nada o dia todo. Se você não tiver dedicação e disciplina para focar nos objetivos que você quer atingir, você nunca vai chegar.
Por que eu estou dizendo isso?
Porque meu “sonho” sempre foi poder fazer exercícios todos os dias e mesmo tendo tempo, não mudei em nada os meus hábitos em relação a isso e a culpa agora é toda minha, o que me leva ao último tópico.
Realização pessoal, experiência de vida, autoconhecimento, muita conversa comigo e com Deus e muita reflexão.
Hipocrisia alheia, grana, riscos do desconhecido, incertezas e muitas dúvidas.
Fiz trabalhos que eu nem imaginava.
Minha sensibilidade aumentou, passei a me colocar no lugar do outro e a ser uma pessoa cada vez melhor.
8. Quando você não tem ninguém ou nada para culpar, a culpa é toda sua: A nossa vida é cheia de desculpas e quase sempre os culpados são o trabalho e consequentemente, a falta de tempo que ele nos causa. Quantas vezes você não se pega dizendo: “Estava muito corrido, fiquei presa no trânsito, não tive tempo, o trabalho me consome…e por aí vai.Quando você toma uma decisão como esta, pede demissão e vai viajar, tudo o que você não realiza é puramente sua culpa, já que você é o dono do seu tempo e não tem ninguém te dizendo o que precisa ser feito. Depois de viver uma vida sufocada pelas obrigações é difícil admitir que se algo não está saindo do jeito que você imaginou a partir de agora, a culpa é toda sua. Algumas pessoas podem pensar que estou dando um olhar negativo para essa experiência tão maravilhosa, mas na verdade é totalmente o contrário. Justamente por ser uma experiência única eu aprendo todos os dias e só o que quero mostrar aqui é que não existe milagre. Não tem praia linda que vai fazer você fugir de todos os seus problemas. Uma oportunidade para pensar na vida como um todo, reconectar-se com seus valores. “Às vezes, é difícil parar para fazer essa reflexão quando se está no olho do furacão. O sabático é um momento de distanciar-se, conseguir observar melhor o todo e entender o momento. Quando estamos dentro de uma zona de conforto é difícil sair dela. Eu me sentia perdida”. A decisão de buscar um recomeço não deve ser tomada de uma hora para outra e, até neste momento, requer autoconhecimento. O primeiro passo é refletir sobre qual a real intenção do sabático, sua motivação e o que se pretende fazer – essas não são respostas que se tem de imediato e pensar nelas faz parte desse processo.
Eu encontrei a felicidade nas coisas simples.
E volto para meu País com uma bagagem para vida toda.
É por isso que eu amo essa frase do Gandhi:
“Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Porque não adianta sair para o mundo achando que ele vai mudar o que está dentro de você.