Projetando a Carreira de Professor Universitário em Ciência da Computação

19 abr 2016

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DEPOIMENTO de Rita de Cássia Oliveira Estevam


Minha atuação predominante (22 anos) foi como Professora do depto. Ciência da Computação da UFJF (em Juiz de Fora - de setembro de 1991 a setembro de 2012).


Como a maioria dos professores de nível superior de diversas áreas, eu não me preparei pedagogicamente para exercer esta função. Meus conhecimentos se limitavam aos cursos de graduação e mestrado computacionais e à pouca experiência profissional na área. Mas o conhecimento dos professores não advém apenas dos cursos realizados, é importante lembrar do tempo como aluno.


Entrei no Curso de Matemática da UFRJ em março de 1976 com o forte desejo de fazer Informática, carreira nova, promissora e pra mim desconhecida.


Como era uma excelente aluna, principalmente em Matemática, almejava com esta escolha ganhar ótimos salários.


Em julho do mesmo ano comecei a trabalhar como caixa no extinto Banco Nacional, por 2 semestres na agencia da Praça da Bandeira e nos 2 últimos meses numa agência na Ilha do Fundão.


No curso de Matemática estava no quarto período, e ia muito mal na disciplina de Computação I (porta de entrada para o Curso de Informática).


Como arimo da minha família (meu pai teve AVC em 1972) precisei procurar um novo emprego e trancar minha matricula nesta disciplina.


No fim do terceiro ano fui selecionada, em entrevista por banca examinadora, para entrar no Curso de Informática da UFRJ, pois além de ter tirado ótimas notas em Computação I, eu fazia estágio na Secretaria da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro.


Não mencionei pra banca que o estágio era de Estatística e não de Computação.


Mas logo após o falecimento do meu pai (em julho de 1979) arrumei um estágio remunerado de computação em Furnas, um namorado (futuro marido)  e no ano seguinte um estagio na Embratel.


Nos dois últimos períodos do curso (1980) fiz os três estágios, pois não podia dispensar nenhuma das bolsas.


Direcionei minha formação para o desenvolvimento de software básico, escolhendo disciplinas características para este perfil, pois minha expectativa era trabalhar para que o Brasil se tornasse um país exportador de computadores (indicadores apontavam para reserva de mercado que entrou em vigor 1984 por 8 anos).


Em várias oportunidades como professora, contei aos alunos algumas das experiências relatas acima.


Principalmente quando eles reclamavam que tinham muitos trabalhos, provas e precisavam fazer estagio de 20 horas semanais. Acrescentava detalhes como: virar noites fazendo trabalhos ou estudando e dormir em media 4 hrs/noite.


Resumirei os onze primeiros anos depois de formada, anteriores aos anos como professora universitária.


Inicialmente não consegui um emprego na área de desenvolvimento de software.


Como precisava me sustentar, fui trabalhar num escritório que não tinha computador por intermédio do meu futuro esposo. Descobri ter hipertiroidismo e precisei fazer um tratamento que culminou numa cirurgia (1982).


Em fevereiro de 1983 casei e no mesmo mês de 1984 nasceu meu único filho.


Em 1985 fui aceita para o Mestrado da COPPE/UFRJ na linha de Informática e Sociedade (em 1981 havia sido rejeitada pra linha de Sistemas Operacionais).


Minha decisão de voltar a estudar com um filho de 1 ano causou um grande transtorno no casamento, que culminou em separação quatro anos depois, em abril de 1989.


Em outubro do mesmo ano minha mãe faleceu, depois de 2 anos de tratamento contra um câncer de mama.


Em abril de 1990, consegui defender minha dissertação de mestrado.


Durante o mestrado trabalhei na COBRA Computadores Brasileiros SA, indicada por uma colega de graduação.


Entrei em 1986 e fui demitida, junto com muitos outros, em 1988.


Neste pacote de demissões  entraram desde grávidas até funcionários que estavam perto da aposentadoria.


Na Cobra participei da equipe que desenvolveu a interface de linguagem de comandos do SOX.


Esta experiências me permitiu desenvolver uma dissertação de mestrado sobre diretrizes de interfaces amigáveis, apresentadas em duas técnicas: CAIIO- Classificação dos Aspectos da Interface em Intervalos Ótimos e SUSI- Satisfação dos Usuários de Sistemas Interativos.


Caracterizando sistemas interativos em 3 áreas distintas: Aplicativos para Administração, Ferramentas para Desenvolvedores e  Aplicativos científicos.


Em março de 1990 o pacote de confisco das poupanças dos brasileiros não me deixou outra saída, senão entrar no Doutorado para ter uma bolsa de estudos.


Com o Brasil estava em recessão, novamente não consegui emprego.


Em agosto de 1991 fui aprovada, em primeiro lugar, na seleção para professor do Curso de Informática da Universidade Federal de Juiz de Fora; sem ter vocação ou qualquer tipo de planejamento.


Logo, minha carreira profissional não é exatamente um exemplo de projeto de vida, talvez apenas um exemplo de adaptabilidade de vida às circunstancias.


Continuei me adaptando aos desafios, mas a partir de então com salário e estabilidade de funcionário público.


Esta estabilidade, conjugada à clausula dedicação exclusiva, de certa forma poda a coragem e a liberdade das pessoas.


Meu primeiro desafio foi substituir o professor contratado para lecionar as disciplinas de Banco de Dados e Estruturas de Dados II, no meio do período letivo.


Este professor abandonou suas turmas, porque fez o concurso e foi o segundo colocado.


Dois anos depois foi admitido em uma nova vaga e passou a me hostilizar, segundo ele: "por ter tomado o lugar que lhe pertencia". O terceiro candidato não foi aprovado, mas no concurso seguinte foi e também passou a me hostilizar.


Ou seja, nem sempre o ambiente acadêmico, onde supostamente os professores são pessoas educadas, é um lugar agradável, nem respeitoso. Alguns são orgulhosos, invejosos e maldosos, principalmente com os que não são "crias da casa".


Em 1995 me mudei para cidade de Juiz de Fora, cansada dos 3 ½ anos que passei viajando semanalmente, primeiro de ônibus depois dirigindo.


Como fazia Doutorado na COPPE fui dispensada alguns dias da semana, mas sem dispensa na carga horária das aulas.


Ou seja, lecionava em média 15 horas/semana em dias consecutivos e voltava pro Rio pra preparar as aulas, revezar com uma amiga a responsabilidade de levar e pegar as crianças (meu filho e dois dela) na escola e na natação e fazer 3 exames de qualificação pro Doutorado.


A nova adaptação acarretou: a venda um apartamento no Bairro de Fátima no Rio para compra de um apartamento que precisava de reforma em Juiz de Fora; novo colégio para meu filho com 11 anos na época e viagens quinzenais ao Rio para visitar o pai.


Nesta etapa do doutorado estava em pesquisa de tese e precisei pedir prorrogação no prazo da defesa.


Na volta de um fim de semana no Rio, encontrei meu apartamento arrombado e os ladrões levaram tudo de valor, principalmente o computador e todos os disquetes com toda a pesquisa da minha tese.


Desisti do Doutorado, mas minha orientadora, generosamente, me deu mais prazo.


Como professora criei a disciplina Informática e Sociedade (I&S)e passei a lecioná-la com enfoque pratico, dando origem a diversos projetos de extensão.


Alguns obtiveram repercussão na cidade, tais como: os cursos de Informática pra Terceira Idade e a Cooperativa de Serviços de Informativa, cujos cooperados eram alunos de cursos de extensão da UFJF.


Apresentei a experiência pratica na disciplina I&S  em congressos e outros eventos da área. Em 1996, por solicitação do recém criado departamento de Informática, redigi o projeto que concorreu ao edital do CNPq para criação do Núcleo GENESIS (Geração de Novos Empreendimentos em Software Informação e Serviços).


Fomos contemplados e por 4 anos fui a coordenadora desse projeto, obtendo redução de carga didática para em média 8 horas/semana.


Neste período também fui convocada para ocupar a chefia do departamento por 1 ano.


Passei a lecionar a disciplina de Empreendimentos em Informática, que vinha junto com o pacote do GENESIS.


Esta coordenação me rendeu varias viagens, muito trabalho e alguns aborrecimentos e a impossibilidade de defender uma tese de Doutorado.


No fim de 1999 deixei a coordenação do projeto, sem o apoio do departamento, já que nenhum professor aceitava me substituir.


Em 2000 meu filho voltou pro Rio e eu comecei a construção de uma casa, num condomínio perto do campus da UFJF, me mudando no fim do mesmo ano.


A universidade passou a oferecer alguns cursos noturnos e professores do meu departamento não aceitavam lecionar a noite. Aceitei lecionar para curso de Administração noturno duas disciplinas: Analise de Sistemas e Metodologia de Desenvolvimento de Sistemas. Acabei lecionando-as no horário diurno também.


Continuei com as disciplinas de I&S e Empreendedorismo  do curso de Ciência da Computação, que posteriormente também foi oferecido a noite.


Desta forma me afastei das disciplinas mais operacionais do curso.


Nos últimos anos passei a me interessar por Educação a Distancia  (EaD) e participar de disciplinas dentro do projeto de universalização da Informática para alunos de todos os cursos da UFJF.


Também de cursos de Especialização a Distancia oferecidos pela UFJF e pela UFF.


Assim terminei minha carreira acadêmica, em setembro de 2012, com a convicção de que fiz o melhor que pude, embora não tenha sido uma vocação ou um projeto de vida.


Em 2013 ainda participei do curso a distancia da UFF como orientadora de trabalhos de final de curso.


Pensei em continuar participando de cursos a distancia, mas resolvi mudar de rumo.


Devido a rapidez dos avanços tecnológicos, a área da Computação requer uma atualização constantes de seus profissionais.


Como professora este desafio, sempre insuperável, me trouxe muitas frustrações.


Por outro lado tive uma carreira que não deixa espaço pra rotina.


Encontrei minha vocação na leitura e na escrita.


Escrevi um livro de ficção sobre uma vida passada em um outro planeta,  uma serie de 11 contos sobre origem e destino (6 referentes ao planeta do primeiro livro e 5 referentes a vida na Terra) e me divirto constantemente escrevendo poesias pouco convencionais.


Atualmente estou me adaptando a vida de aposentada, com um salário não tão maravilhoso,  busco uma maneira de publicar o que escrevo, sem ônus.


Mando pra algumas editoras, inscrevo em concursos literários e participo de feiras, eventos e cursos afins.


Provavelmente usarei as facilidades oferecidas para publicação on-line, mas não antes de tentar vias tradicionais.


Espero ter uma nova carreira como escritora.


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